É a opinião de especialistas. Precisamos de uma
estratégia para vários anos e não para um ou dois governos.
O Exército brasileiro quer investir em pesquisa,
especialmente no desenvolvimento de novas tecnologias de defesa. Até 2025,
cerca de 1,2 bilhão de reais vão construir o Polo de Ciência e Tecnologia do
Exército em Guaratiba (Pcteg), Rio de Janeiro. Uma das razões para o
investimento é a defesa estratégica dos recursos naturais do país.
O general Sinclair Mayer, Chefe do Departamento de
Ciência e Tecnologia do Exército, destaca que o espaço não vai servir apenas
para a formação e pesquisa militar. Assim como ocorre na Escola Superior de
Guerra, por exemplo, civis poderão estudar e pesquisar no complexo. “Temos hoje
poucos peritos na área de defesa e temos o interesse de formar mais gente”,
adianta Mayer.
Os benefícios da pesquisa militar se aplicariam a
outros campos. “Não se pode fazer um carro de guerra sem antes testar
combustíveis”, compara. Mas a preocupação com tecnologia não está restrita à
produção de material bélico – também está relacionada à posição estratégica do
país.
O modelo se assemelha ao usado pelo exército
norte-americano, que além do desenvolvimento de armas, investe em áreas como
logística, química e saúde.
Defesa
de recursos
Para o pesquisador de assuntos militares da
Universidade Federal de Juiz de Fora, Expedito Bastos, o Brasil precisa de
investimentos na área de defesa, já que concentra recursos estratégicos
privilegiados como grandes reservas minerais, petróleo e água doce. “O mundo
tem por hábito buscar essas coisas quando precisa”, argumenta o especialista. O
general do exército reconhece a possibilidade, mas minimiza os riscos. “Existe
preocupação com o futuro, mas a própria estratégia nacional de defesa prevê
isso”, afirma.
Para Bastos, uma melhora na defesa brasileira ainda
não seria o bastante para fazer frente ao poderio militar de grandes potências,
mas ajudaria a “diminuir a ânsia de que tentassem fazer alguma coisa contra
nós”. Outra preocupação é a situação fronteiriça, uma vez que alianças
importantes de países vizinhos poderiam oferecer riscos ao Brasil.
Conhecimento
centralizado
Os planos do Pcteg são de concentrar órgãos já
existentes, como o Instituto Militar de Engenharia (IME) e outros braços
técnicos, em um mesmo espaço, no estado do Rio de Janeiro, que já conta com
cerca de 20% de toda a estrutura planejada.
O Exército tem parceiros no governo, mas planeja
garantir o dinheiro por meio de parcerias público-privadas (PPPs). O primeiro
investidor é o Ministério da Educação. O órgão não confirma o montante, mas diz
que o investimento vai triplicar o número de vagas do IME.
A concepção do projeto é da década de 1980, quando a
área militar de 25 quilômetros quadrados recebeu as primeiras instalações. Por
lá já funcionam o Centro Tecnológico e o Centro de Avaliações do Exército. Além
do IME, o espaço deve receber ainda o Instituto Militar de Tecnologia (IMT), o
Centro de Avaliações do Exército (CAEx), o Centro de Desenvolvimento Industrial
(CDI), a Agência de Gestão da Inovação (AGI), o Instituto de Pesquisa
Tecnológica Avançada (IPTA), uma Incubadora de Empresas de Defesa (IED), o
Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro (AGR), uma base administrativa e um
batalhão de comando.
Conhecimento
desperdiçado
Apesar de aprovar a iniciativa do Exército de
investir em tecnologia, o estudioso de assuntos militares não acredita em uma
mudança da situação. Ele cita que o Brasil passou por ciclos de investimento e
sucateamento dessa força. Em cada uma dessas oportunidades, a descontinuação
das pesquisas provocou a perda do conhecimento gerado e anos de trabalho foram
perdidos, aponta Bastos. A culpa disso seria o planejamento em curto prazo – a
visão para um governo ou dois – e não a montagem de uma estratégia mantida a
longo dos anos.
Outra crítica de Bastos é quanto às parcerias
internacionais, que trazem tecnologia externa, mas não fazem a transferência do
conhecimento prevista nos contratos. Para ele, essa tentativa de troca é
inválida se as duas partes não estiverem no mesmo patamar de desenvolvimento.
Em casos assim, uma das partes vai ser meramente usuária do recurso. “É o que
está acontecendo conosco”, avalia.
Para o especialista, a virada depende não apenas de
investimentos militares, mas da solução de problemas básicos do país, com
educação de qualidade desde a base. Além disso, ele vê com ceticismo a garantia
de recursos para a conclusão do projeto, uma vez que o Ministério da Defesa
costuma ser penalizado em cada ajuste do orçamento da União. Este ano, a pasta
foi a que mais perdeu no ajuste de contas. Dos 18,7 bilhões de reais
inicialmente previstos, foram mantidos 14,2 bilhões no orçamento deste ano,
incluindo a folha de pagamentos, previdência e a própria manutenção das
estruturas já existentes.
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